Gratuidade que não quero;

Agnes

Sou dissimulada como a queda da escada, o canto da cama, a aresta da porta, a quina da mesa. O tiro desferido sem alvo, mas lançando a culpa aos quatro ventos. Eu perfuro abismos, queimo por dentro e dilacero sem pena. Abro fendas profundas, rasgo o íntimo e me alojo no seu sulco que encharca o solo. Escuta!, ó o tilinto do gotejar do meu rancor em sua lágrima e o seu suor. 

Sou a menina degenerada escondida em você. Tão leviana quanto imoral. Arremesso a pedra quantas vezes necessárias for só pra lhe derrubar. Porque em mim mora um prazer descomunal com o que é cruel e banal.

Sou assim: toco pra moer e piso pra esmagar. Atiro impropérios pra lhe julgar, lhe machucar e lhe corrigir. Mas não se engane, uso máscara da verdade pra me disseminar e deixar em silêncio minhas marcas em seu cerne; pra depois eu rir jocosamente ao lhe ver ridicularizado e humilhado por mim.

Sou fluxo imperfeito - não tenho hora, nem lugar e todo dia sou notícia de tv, porque moça exibida gosta mesmo é de aparecer. Sou o rastro mais sujo da condição humana e só almejo destruir seu semelhante. Nunca vou me omitir, isso é pra você não me esquecer, porque em cada esquina tenho uma face diferente. 

Tinjo tons, pinto corpos e, em segundos, deixo o assombro desses vultos perturbá-lo. 

Você me notará travestida de rudeza, ignorância, intolerância e preconceito. A seu bel-prazer, a violência.