As lembranças me parecem fotografias recém tiradas, porque é assim que me recordo dos meus anos dentro daquele fusca velho e as (des)venturas que enfrentei com ele.
Na época lembro-me bem como meu irmão caçoava de mim pelo meu gosto ser tão excêntrico e um deles estava no topo: gostar de carangos. Sim, eu era apaixonada por carros antigos, porém clássicos. Às vezes, se me encontrava com alguém que tivesse a mesma afinidade a qual eu tinha pelos tais, pronto, poderia sentar e esperar que eu conversaria horas e horas apontando as vantagens e desvantagens de possuir um numa garagem particular guardando outras várias relíquias de quatro rodas.
Quando completei meus dezoito anos me esforcei e trabalhei como uma condenada para juntar o dinheiro suficiente para tirar minha carteira de motorista. Foram quatro meses de pura ralação quando eu quase me dei por vencida... Não era nada fixo e minha avó vendo meu desespero e as minhas forças esvaindo-se decidiu me ajudar, completando o montante que faltava. Fiquei eufórica e duraram dois meses, em média, a autoescola. Pareceu uma vida, mas para quem tanto sonhava era um esforço que seria recompensado e assim o foi. Nos meses em que me dedicava apenas à espera, ficava também vagando pelas oficinas, procurando em folhetos um “carro classiquinho” que pudesse me levar aonde eu quisesse e trabalhando fixo num brechó. Mas quanto mais eu buscava um baratinho, mais me apareciam uns capengas. Se eu quisesse velharia de fato preferia comprar apenas a carcaça, ou melhor, dizendo, só a lataria. E para a minha surpresa, no final daqueles dois meses meu pai me presenteou com um fusquinha. Ele tava mais pra lá do que pra cá, contudo eu daria um trato nele e antes mesmo de eu poder entrar na faculdade ele já estaria bem arrumadinho para eu me exibir pela cidade.
Parcelei as dívidas na oficina, o estofado era de couro sintético branco (e antes isso do que estofado de almofadas); mandei refazer o carpete e o painel; ajeitar o que mais necessitava no motor e o retoque final pintá-lo. Como eu gostava muito de vermelho foi essa cor mesmo que tratei de colori-lo. O primeiro passeio foi quase um grito de liberdade e eu, definitivamente, me sentia a toda poderosa. Isso, hoje, até me faz rir de mim mesma. Era divertido – tudo ganhara uma pincelada de vida.
No primeiro semestre do ano seguinte lá me fui à faculdade e minhas aulas seriam pelo turno noturno. No primeiro dia, meu carrinho não podia me fazer pagar um vexame. Para muitos ele já era considerado velho e diante de uma situação dessas seria constrangedor demais para a minha pessoa. E, diferente do que eu pensava, ele não me fez pagar nenhuma vergonha e pra falar a verdade causei foi inveja de alguém muito desorientado das ideias. Pois já era tarde quando eu me dirigi até ao estacionamento e vi-o lá somente com o tambor dos freios que sustentam a roda, as quatro, sem mais nem menos roubadas. Eu quis chorar como quis. Fiquei assustada, tudo estava tão calmo e os vagabundos que fizeram aquilo ainda poderiam estar por perto me observando querendo levar a dona também, porque vai saber... Então resolvi ir até a direção. Sabia que ninguém poderia auxiliar naquele momento, entretanto permitiriam que eu usasse o telefone da secretaria. Sabe porque sobrevivi na noite em que me fizeram isso? Porque enquanto eu discava os números de casa um rapaz ficou me observando de rabo de olho. Talvez fosse ele quem tivesse roubado, mas não... Seria muito atrevimento ainda ficar me seguindo. Pois eu notei que ele havia chegado depois de mim ali. E para minha surpresa quando eu não consegui falar com ninguém em casa ele pôs-se a falar comigo, perguntando o que havia acontecido, porque eu estava com olhar de chorosa – exatamente desse jeito. Minha angústia aumentou quando eu contei o que havia acontecido. Para minha surpresa ele disse tranqüilizando-me “Não tem problema, vamos chamar um guincho, levá-lo até a oficina e tudo ficará resolvido.” Outro rapaz aproximou-se por trás e lhe perguntou “O que tá pegando, Ferruge?” E eu ri. Logo ele tratou de se explicar que esse apelido fora dado não somente porque ele era ruivo, mas também porque estudava Mecânica. Não consegui pensar no que ao certo aconteceu se era destino, Deus ou coincidência. Porque só eu sabia a importância que aquele carro tinha para mim. E eu não sabia, não até aquele dia, mas o Benito (o “Ferruge”) foi o maior desbravador de (des)venturas entre eu e o meu Morangão, apelidado desse jeito pelo próprio, após esse ocorrido!
Na época lembro-me bem como meu irmão caçoava de mim pelo meu gosto ser tão excêntrico e um deles estava no topo: gostar de carangos. Sim, eu era apaixonada por carros antigos, porém clássicos. Às vezes, se me encontrava com alguém que tivesse a mesma afinidade a qual eu tinha pelos tais, pronto, poderia sentar e esperar que eu conversaria horas e horas apontando as vantagens e desvantagens de possuir um numa garagem particular guardando outras várias relíquias de quatro rodas.
Quando completei meus dezoito anos me esforcei e trabalhei como uma condenada para juntar o dinheiro suficiente para tirar minha carteira de motorista. Foram quatro meses de pura ralação quando eu quase me dei por vencida... Não era nada fixo e minha avó vendo meu desespero e as minhas forças esvaindo-se decidiu me ajudar, completando o montante que faltava. Fiquei eufórica e duraram dois meses, em média, a autoescola. Pareceu uma vida, mas para quem tanto sonhava era um esforço que seria recompensado e assim o foi. Nos meses em que me dedicava apenas à espera, ficava também vagando pelas oficinas, procurando em folhetos um “carro classiquinho” que pudesse me levar aonde eu quisesse e trabalhando fixo num brechó. Mas quanto mais eu buscava um baratinho, mais me apareciam uns capengas. Se eu quisesse velharia de fato preferia comprar apenas a carcaça, ou melhor, dizendo, só a lataria. E para a minha surpresa, no final daqueles dois meses meu pai me presenteou com um fusquinha. Ele tava mais pra lá do que pra cá, contudo eu daria um trato nele e antes mesmo de eu poder entrar na faculdade ele já estaria bem arrumadinho para eu me exibir pela cidade.
Parcelei as dívidas na oficina, o estofado era de couro sintético branco (e antes isso do que estofado de almofadas); mandei refazer o carpete e o painel; ajeitar o que mais necessitava no motor e o retoque final pintá-lo. Como eu gostava muito de vermelho foi essa cor mesmo que tratei de colori-lo. O primeiro passeio foi quase um grito de liberdade e eu, definitivamente, me sentia a toda poderosa. Isso, hoje, até me faz rir de mim mesma. Era divertido – tudo ganhara uma pincelada de vida.
No primeiro semestre do ano seguinte lá me fui à faculdade e minhas aulas seriam pelo turno noturno. No primeiro dia, meu carrinho não podia me fazer pagar um vexame. Para muitos ele já era considerado velho e diante de uma situação dessas seria constrangedor demais para a minha pessoa. E, diferente do que eu pensava, ele não me fez pagar nenhuma vergonha e pra falar a verdade causei foi inveja de alguém muito desorientado das ideias. Pois já era tarde quando eu me dirigi até ao estacionamento e vi-o lá somente com o tambor dos freios que sustentam a roda, as quatro, sem mais nem menos roubadas. Eu quis chorar como quis. Fiquei assustada, tudo estava tão calmo e os vagabundos que fizeram aquilo ainda poderiam estar por perto me observando querendo levar a dona também, porque vai saber... Então resolvi ir até a direção. Sabia que ninguém poderia auxiliar naquele momento, entretanto permitiriam que eu usasse o telefone da secretaria. Sabe porque sobrevivi na noite em que me fizeram isso? Porque enquanto eu discava os números de casa um rapaz ficou me observando de rabo de olho. Talvez fosse ele quem tivesse roubado, mas não... Seria muito atrevimento ainda ficar me seguindo. Pois eu notei que ele havia chegado depois de mim ali. E para minha surpresa quando eu não consegui falar com ninguém em casa ele pôs-se a falar comigo, perguntando o que havia acontecido, porque eu estava com olhar de chorosa – exatamente desse jeito. Minha angústia aumentou quando eu contei o que havia acontecido. Para minha surpresa ele disse tranqüilizando-me “Não tem problema, vamos chamar um guincho, levá-lo até a oficina e tudo ficará resolvido.” Outro rapaz aproximou-se por trás e lhe perguntou “O que tá pegando, Ferruge?” E eu ri. Logo ele tratou de se explicar que esse apelido fora dado não somente porque ele era ruivo, mas também porque estudava Mecânica. Não consegui pensar no que ao certo aconteceu se era destino, Deus ou coincidência. Porque só eu sabia a importância que aquele carro tinha para mim. E eu não sabia, não até aquele dia, mas o Benito (o “Ferruge”) foi o maior desbravador de (des)venturas entre eu e o meu Morangão, apelidado desse jeito pelo próprio, após esse ocorrido!
♪ "Quero buzinar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!..."
O Calhambeque - Roberto Carlos
Pauta para o P.C. e o O.U.A.T.
Desculpa fazer vocês lerem algo do tipo e grande, rs. Mas é que eu gosto de fuscas, vermelho e morango, então me deixa, ó! :P
Beijo pra quem é de beijo.
Babiiiiiiiiiiiiiiiiiii
ResponderExcluirAdorei o post...
Adoro essa música, vazia meu pai tocar ela no violão quando eu era criança todo dia... Adoro fuscas, já tive um... hahahaha... Nunca te contei isso né... Ainnn me lembra que eu te conto.
Amei mesmo. Incrível o modo que desenhou tudo e não achei chato e nem grande/cansativo. Adorei cada detalhe.
Vai continuar né? Diz que vai por favor!
ótimo texto. EStou tirando minha habilitação e espero não ser um desatre nas ruas. Outra, fusca é até bacaninha mas acho que ficaria melhor em um New bettle? (acho que se escreve assim) Oque acha?
ResponderExcluirBjo.
adorei, mesmo, chefa, voce tá mandando bem ... *O*
ResponderExcluiradorava o meu fusca branco, que meu pai tinha . aiaiai, nostalgico
aaah, que ótimo texto. Vou começar a tirar a minha habilitação ainda essa semana (eu acho!) ... enfim, é baseado em fatos reais?!
ResponderExcluirCaramba, demais essa história! E eu que achei que carro velho fosse sinônimo de decepção...
ResponderExcluirBah, uma pena que tenham cometido essa atrocidade contigo, já tive carro furtado e a sensação é terrível, não desejo pra ninguém.
Fiquei curioso pra saber por quanto tempo tu ficou com o Morangão, que fim ele teve, enfim... adorei teu relato.
Obrigado por me fazer companhia na postagem coletiva! Pensei que fosse postar sozinho hoje, hehehe!
Beijo!
Cara auhuahsahsh
ResponderExcluirNa minha infância eu tinha uma "prima" que a mãe dela também tinha um fusca vermelho aushauhs
eu me vi aquii, beeeijos ;**
Babi!
ResponderExcluirO texto ficou excelente! A leitura foi muito agradável, e nem um pouco chata ou cansativa.
Tenho que dizer que também sou apaixonada por fuscas!
Beijo doce!
haha
ResponderExcluirah, Babi, que textto engraçadinho. rs
meu pai tinha um fusca... como eu odiava aquele carro, meu Deus. Fusca faz um barulho danado. haha
mas o morangão parece bem charmoso. uma história de amor, hein? haha
Adorei. ^-^
Uma leitura bem leve e gostosa.
Beijão, queria. :)
Por incrível que pareça, a história é real, guria! E ainda não acabou, assim que tiver um tempo vou contar o resto... Minhas peripécias automotivas renderiam vários textos, tenho que me controlar pra não ficar extenso demais, hehe!
ResponderExcluirObrigado pela visita!
Beijão!
Ficou demais!!!
ResponderExcluirLeve, delicado!!!
beijo
Ficou grande, mas não cansativo. Adorei o texto, muito bom mesmo. :D
ResponderExcluir:*
Ídola!
ResponderExcluir*-*
Vou escrever sim, quando aparecer algo que me lembre o assunto em algum projeto.
JackStripador \o/
Babizinha
ResponderExcluirQue perrengue... desculpe que não pude deixar de dar umas boas gargalhadas, mas imagino como deve ter se sentido e se eu estivesse no seu lugar ia ficar chorando a noite toda e não sei se iria pensar em pedir ajuda de tão triste que estaria.
Adorei!!!
Beijos
Aqui de novo pra te dizer algo:
ResponderExcluirSelinho pra ti lá no blog, passa lá e dá uma conferida.
Bjos.
http://manuscritoperdido.blogspot.com/2010/07/selo-deslumbrante.html
Eu quero um fusca rosa, sério. Com meu nome de lado, pra ficar mais incrível ainda, hahaha.
ResponderExcluirE ei... Depois vocês dois foram dar voltas e voltas no Morangão? Hummmm...
Já vi tudo! HUAHUAHUA
Beijo.
Que situação e ainda bem que sobrevivestes a isso tudo.
ResponderExcluirBeijos