Da janela do ônibus;


O que você faz quando ninguém te ver fazendo?” Na melhor das hipóteses, loucuras que cabe somente a si próprio saber. Um momento só seu para extravasar e se manter são. Quem nunca agiu assim? Não, não estou pedindo para delatar seu crime, enquanto está sozinho consigo mesmo. Mas admitir que uma conversa de si para si, às vezes, lhe cai bem. Agora... E se, alguém lhe pegar se comportando assim, digamos, estranhamente? Vergonha na certa. Acontece que quem cria seus próprios muros de isolamento somos nós. Nesses momentos o que mais desejamos é estarmos invisíveis mesmo que isso seja impossível.

Por que estou falando disso? Então, lhes conto um episódio no mínimo interessante. Há alguns dias dentro do ônibus, já a uma quadra de descer na parada, o sinal havia fechado e na faixa da direita uma mulher parou seu carro vermelho popular e aumentou o som. Todos os passageiros do lado direito do ônibus espiaram quando do nada ela iniciou a acompanhar a música, cantarolando alto e tamborilando no volante. Talvez, ela não tivesse consciência que estivesse cantando tão alto, ou como é normal acontecer, esperamos ouvir nossa própria voz mesmo com o áudio elevado. E, então, ela tentava ouvir a si mesma.

Eu ri e comentei com uma amiga o quão animada ela parecia. Penso que o espaço físico, dentro do carro, a isolava sim dos demais, porém não tanto quanto ela esperava como uma capa protetora e com poderes de invisibilidade. Ou melhor, adoraria imaginar que o estado de espírito dela naquele momento fosse esse, de se transbordar, independente do que pensassem dela. Ainda lembro o que ela trovoou a todo pulmão...

“Me diz pra quê? Fazer tanto charminho,
tá perdendo seu tempo,
sem me dar carinho.
Assuma de vez que quer me amar.
Quem desdenha quer comprar...”

O sinal abriu, os veículos passaram em seu percurso normal e eu fiquei imaginando todas as situações inusitadas que a fizeram vociferar daquela maneira esse trecho.

10 comentários:

  1. Ai gente, pior que eu sou como essa mulher, canto e danço na rua e meio que esqueço que tem mais gente na rua. Adoro treinar meus saltos do ballet na rua ( pq tem espaço). Mas aprendi a conviver com o mico e sou feliz!

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  2. O que acho mais engraçado nessas ocasiões é como nós olhamos, meio torto, meio com vergonha pela pessoa. Mas quando nos vemos distraídos, estamos fazendo o mesmo.
    Sempre acontece comigo: quando percebo, estou eu, cantarolando feio doida pela rua...
    Vim para dizer que voltei com o blog!

    Beijos doces

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  3. Você disse que não era pra falar o que faz quando estamos sozinhos, mas o que eu faço nem é tão grave assim: eu falo sozinha. E, pior, já fui pega várias vezes. Mas nada é mais constrangedor, acredite, que estar andando na rua, lembrar de algo engraçado, e rir enquanto um bar inteiro te olha. Até já ri sozinha outras vezes na rua, mas tive o azar de, naquela hora, ter uma plateia inteira pra reparar.
    Posso estar paranóica mas acho que os homens que me viram naquele dia fazer isso, ainda me olham estranho.
    Mas a sensação de liberdade em se assumir louca e não estar nem aí para o que os outros estão vendo, se acham estranho, ou se para eles também é normal, é a melhor.
    ;)

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  4. Achei que você captou a essência da coisa quando disse que, naquele momento, ela tinha necessidade "de se transbordar, independente do que pensassem dela". Tenho um amor enorme por pessoas assim.

    Vivemos cercados de regras que não estão escritas em nenhum lugar, e precisamos nos comportar dessa maneira para parecer "normais". Aff!

    Eu também canto e danço nos corredores da faculdade, corro na chuva, rio sozinho (às vezes, preciso sentar para conter as minhas crises). Afinal, eu não preciso provar preciso provar pra ninguém que eu sou normal.

    Amei o texto, Babi. Beijos

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  5. Isso foi tão... Eu! mas que coisa, nunca tinha parado pra pensar nisso, mas é mesmo.. Sempre quando a gente é pega numa situação assim é vergonha na certa, mas cá entre nós, que é legal é! Ah é!! srsrs..Adorei isso Ursa! Bjooo

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  6. Oi, Babi!

    Adorei seu texto! Creio que todo mundo já viveu ou presenciou situação parecida. Engraçado como essas coisas geralmente acontecem quando estamos ouvindo música, né? Música tem esse poder... De fazer a gente se soltar. Assim como você disse, às vezes estamos cercados por outras pessoas, mas a euforia é tanta que nem percebemos. E nos permitimos um momento só nosso. :) E isso é sempre muito bom. Fazer o que quiser sem se preocupar se tem alguém vendo.

    Beijos,
    ^_^

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  7. ...mas e se o desdém aparente for a opinião sincera?

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  8. Minha mãe me pega falando sozinha o tempo todo, e em todas as vezes pergunta:

    - Tá louca, menina?
    - Não, mãe, nunca estive tão sã!

    =)

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  9. Quando estou sozinho faço coisas que não queria que me vissem fazendo. Meu mundo particular é obsceno, profano e sim eu "meto" o dedo do nariz, confesso. rs.

    Também fico a divagar sobre momentos que levaram a tal moça a vociferar assim, inveja eu sinto.

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  10. E o que dizer não é? Tantas e tantas vezes nos proibidos de fazer o que nos dá na veneta - devíamos ser assim constantemente - Sem se importar, simplesmente se permitir.

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