Ele ainda se lembrava da primeira vez em que ela tirou seus óculos e correu para longe provocando-o, "então, ceguinho, daí você me enxerga? jura que ainda me acha linda?". E ele riu da própria miopia e de tudo aquilo que ela lhe instigava por dentro. Num tom mais alto ele lhe respondeu "você é o borrão mais lindo que já vi na vida". E ela estremeceu, freando o próprio passo, enquanto ele trilhava meio trôpego com medo de cair se aproximado cada vez mais dela... Ele a tomou nos braços, enquanto ela depositava de volta com todo cuidado seus óculos em seu rosto. "E agora?", ela sorriu. "Ah, bem melhor...", disse ele acarinhando delicadamente uma de suas bochechas rosadas, porque ela carregava consigo esse rubor gracioso da timidez mesmo mostrando toda sua volúpia como mulher.
Ela era sua menina e disso já não tinha mais dúvidas. Os lábios dela procuraram os dele e ele despertou daquela divagação ao admirá-la enquanto dormia.
Se tinha algo do qual ele gostava era de velar seu sono, parecia algo poético e distante quando ainda namoravam, já que pouquíssimas vezes conseguiam passar a noite inteira juntos. Mas agora era a única certeza que lhe trazia extrema felicidade vindo de um momento tão simples e até banal para alguns casais: olhá-la dormir. Sua expressão tão lívida e inocente lhe enchiam de um amor tão terno que ele poderia passar horas ali, contudo nunca resistia...
Os ombros dela estavam desnudados com as alças da camisola caídos sobre os braços e as costas e clavícula ali bem expostas, mostrando o caminho que ele adorava percorrer: ombro, clavícula, pescoço, orelha... Só de imaginar já se animava todo e assim o fazia. Primeiro roçava suavemente sua barba por fazer naquela pele clarinha e ela se remexia um pouquinho oferecendo-lhe logo um risinho. Tão boba. Depois ele fazia um afago tíbio no braço e morosamente esfregava mais o rosto nela, como um bicho que cheira sua cria. Um beijo. Um cheiro. Do ombro à orelha. Ela despertava mansinha, entreabria os olhos e ficava reconhecendo aquelas sensações tão bem-vindas logo cedinho.
Ela ia voltando-se para o lado a cada parte que ele aprazia e vagarosamente se impunha sobre o seu corpo. Era ela sendo tão sua aproveitando também para tomá-lo para si. Os beijos chegavam dóceis até a bochecha para então seus olhos se fitarem com aquela ternura que somente dois amantes reconheciam. "Bom dia!", ela pronunciou num sibilo. "Bom dia, meu amor", ele retribuiu inebriado. E assim, o corpo dele vertendo sobre o dela, eles selavam uma, duas, três vezes a boca um do outro.
Ele sabia que se não saísse rápido daquela posição daria margens à outra coisa, mas não conseguia sequer pensar em sair dali. A boca dela tinha gostinho da manhã e eles já não se importavam mais sobre isso. E ela assim mesmo desabraçou-o para se espreguiçar um pouco e ele permaneceu ali prostrado no amor que queria dar. Ela sabia que cederia, principalmente, quando o sentia afundar o rosto em seu pescoço e a beijava como quem quisesse se afogar, se perder; e quem perdia a razão era ela. A língua dele deslizava em espirais pelo seu colo a medida que a pressão sobre seu quadril era mais intensa. Com uma das mãos ele apertou uma de suas coxas e olhou-a com a boca semiaberta.
Ela queria sorrir, mas o calor e o torpor já lhe tomavam o corpo. Em segundos, ele afrouxou seus corpos e voltou a roçar-se nela. Os sexos um de encontro ao outro. Ele sabia que somente a fina camada do próprio calção e a da calcinha dela que o separavam, mas estava tão bom. O pau entumescendo e a calcinha molhando-se de prazer. Ela arfou, finalmente, sôfrega de não conseguir mais controlar a vontade e os gemidos vieram um atrás do outro como súplica do que queria também. Enfiou as mãos no bumbum dele e apertando-o com força contra si, beijou-o com ardor, consumindo-o.
Eles começavam quase todos os sábados assim: com urgência.